XV

Basta
existires.
É tudo o que peço.
Tudo.
Mas que o faças
sem pausas
pois
se fizeres
tornas-te criminosa,
e cansar-te-ia muito
a acumulação
das pequenas culpas.
E esse cansaço
então
tem o efeito
de um veneno
que te impregna toda,
te aquieta,
e te sugere por vezes:
viver
é só um estranho capricho,
levar o fardo do nosso corpo
de um espaço estreito
a um espaço estreito
através.


[ Poema "XV" do escritor húngaro Péter Zirkuli,
in "O instante luminoso". As palavras em itálico
estão originalmente no livro, não são "obra" minha.]

.: Eu podia escolher

Não tinha ideia
Escolhi a paz.

A verdade e a beleza
Deixei-as ir,
E também a sageza e a nostalgia
Até o amor,
Que tão embevecido me olhava,
Negras nuvens com ele se deslocavam

Paz, era paz.
E nos recônditos da minha alma
Dançavam seres
De que nunca tinha sequer ouvido!

E no céu pendia um outro ser.


[ Toon Tellegen ]

O amor é o amor - e depois?!

O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois?
-espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!


Alexandre O´Neill
Poesias Completas
1951/1981

[o amor é o amor, e depois?
Tão complexo, tão exigente, tão intenso.
Mas, é só amor....o amor é o amor.
Mas, e depois do amor?]